quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OUTER HEBRIDES, SCOTLAND (segunda parte)

"Fàilte. Ciamar a tha sibh?"(Bem-vindo. Como vai?)
As ilhas que compõe  as Hébridas são pequenas, pouco populosas e os ferrys geralmente partem apenas uma vez ao dia. Quando se perde o ferry, só no dia seguinte, se houver lugar. E um aviso aos afoitos: o mar do Atlântico Norte é muito gelado para nadar. Decidi fazer a rota sul-norte, por causa do vento que habitualmente sopra nesse sentido. Já sofri muito no Canadá e na Nova Zelândia com os ventos contra. A travessia de Oban a Castlebay é feita em 5 horas. No Castlebay Hotel fomos atendidos pela Jessica. Uma moça bem jovem, ruiva, cheinha, pele bem branca, vestida com uniforme preto, sorridente e prestativa. Ela cuidava do hotel, do bar e do restaurante. Sempre correndo. Mas chegamos tarde para o jantar. Comemos pão, queijos e frios no quarto.


                                                                     
No dia seguinte saímos cedo, morrendo de vontade de pedalar. Fomos, minha irmã, meu cunhado e eu de bici e minha companheira foi dirigindo, saindo mais tarde. Do hotel até o porto de Ardmhor (Aird Mhòr) , onde tomaríamos o ferry para a Ilha de Eriskay (Eirisgeigh), são aproximadamente 15 km. Confesso que fomos bem devagarzinho, comendo a paisagem com os olhos. Pedalamos ao lado do mar o tempo todo. À direita, colinas rochosas escaladas sempre por ovelhas que paravam curiosas quando passávamos.
                                                               
Os campos, entre o mar e as colinas, são floridos mas de cores muito diferentes das que vemos habitualmente. São flores bem douradas, outras roxas, outras vermelhas, amarelas, azuis. É muito impressionante. O sol da manhã refletindo no mar azul, com a areia das praias bem brancas, aquele campo florido, reluzente, multicolorido e a estradinha estreita era emocionante. Havia uma brisa fresca no rosto. Minha irmã se emocionou às lágrimas com tanta beleza. Em determinado momento olhou para mim sem dizer nada e balançou a cabeça, embargada de emoção, enquanto pedalava. Ficamos em silêncio, em respeito total àquele espetáculo único da natureza, pedalando devagar.
                                                                           
O embarque das bici no ferry é tranqüilo. Apeia-se e se as empurra até um local já definido. Logo depois minha companheira chegou, sorridente, feliz com as fotos que havia tirado no percurso. A viagem de Ardmhor `a ilha de Eriskay é curta, 40 minutos. Pegamos nossas bicis e seguimos. A estrada inicial, de uns 2 km  é uma caseway, aquelas estradas elevadas feitas sobre águas rasas que liga as ilhas. Era uma estrada estreita e como ventava um pouco, podíamos sentir os respingos do mar. Ao término desta caseway, entra-se na ilha de South Uist (Uibhist A Deas). Segue-se no mesmo padrão de estrada até Bebencula (Beinn Na Faoghla) aproximadamente 50km. A estrada é bem pavimentada, muito estreita, sem acostamento, para apenas um carro. Há, a intervalos regulares, pequenas áreas pavimentadas em forma de meia lua, para se parar e aguardar o carro que vem em sentido contrário passar. Se a área estiver à esquerda é você que deve parar e dar passagem. Se estiver à direita, pode ir que o outro vai parar.  Em nenhum momento vi alguém desrespeitar essa regra. Mesmo de bici, os carros param e esperam, pacientemente, você passar.
Esse trecho é diferente do anterior. É bem plano, há poucas colinas, poucos campos floridos, não se veem construções, nem animais. Não chega a ser monótono porque a proximidade do mar e a estradinha sinuosa dão prazer em pedalar. De Bebencula a Berneray(Beàrnaraigh) são 45 km de caseways, estradinhas bem estreitas passando por fazendas. O terreno é irregular, com aclives e descidas longos embora não muito inclinados. De Berneray a Leverburg(An  t-Ob) é uma hora de ferry. Em Leverburg há um mercadinho logo no desembarque, bom para se abastecer de água, pão e frutas.  A pedalada volta a ficar belíssima, com o mar à esquerda, colinas rochosas à direita e campos floridos. As praias são imensas. Não resisti, passei pela cerca e comecei a pedalar na praia, indo longe, mais de um quilômetro em direção ao mar e ainda na areia.
Estávamos chegando em Tarbert (An Tairbeart), a 34km, onde ficaríamos no B&B  Beul na Mara da Catherine, uma simpática senhora entre seus 75 e 80 anos. Ela cuidava sozinha da casa. Tinha três quartos para alugar. Os quartos eram arejados, com roupa de cama e banho de boa qualidade, cheirosos e a limpeza era impecável. O café da manhã era servido em uma varanda envidraçada com vista para uma daquelas praias imensas. Não dava vontade de sair dali. A Catherine era orgulhosa de seu Porridge, um mingau de aveia salgado. Também servia a pedidos, bacon , salsicha e ovos fritos na hora, tomate e cogumelos assados. Era um bom café da manhã.