quinta-feira, 29 de abril de 2010

MONTANHAS ROCHOSAS CANADA (primeira parte)



Fiz a viagem que planejava havia muito tempo. Pedalar na Icefield Parkway Express, tida como a rodovia mais bonita do planeta, nas Montanhas Rochosas, no Canadá. Para ir a Vancouver, ponto inicial no Canadá, você pode usar as milhas da TAM, se for pela United Airlines. De Vancouver, toma-se o trem da Via Rail Canadá até Jasper. O trem é vagaroso e leva vinte horas, porém é confortável, mesmo na classe econômica e a viagem é muito agradável pela paisagem. Jasper é uma cidadezinha pequena, tem três ou quatro ruas apenas e é toda voltada ao turismo. A maioria das casas tem quartos para alugar. O que fiquei, por 45 dólares canadenses, era confortável, limpo e bem arejado. O banheiro era compartilhado por outros hóspedes, mas tinha água quente e chuveiro, sem café da manhã. Há inúmeros Bed and Breakfast. Há três lojas de bici, uma delas, a FreeWheel, tem muitas opções de peças. Também aluga bicis. Minha intenção era fazer o percurso de Jasper a Banff, de 300km, em cinco dias. Pedala-se boa parte do tempo ao lado de rios rasos, pedregosos e rápidos, de águas claras. E dentro de uma floresta de pinheiros bem altos. Neste percurso é provável que você vá ver algum animal selvagem, como coiotes e caribus. Se tiver sorte, um urso ou um cougar, que é um tipo de felino das montanhas. Os coiotes e caribus são mais frequentes, mas difíceis de fotografar, porque quando se pára a bici para pegar a câmera, eles fogem para a floresta. Há vários avisos para se tomar cuidado com os ursos. Um ataque de urso é sempre fatal. Eles correm mais do que você, são fortes e sobem em árvores. Não há como escapar. O que os guardas florestais recomendam, é que você fique parado, não grite, não encare o urso nos olhos e se afaste, caminhando de costas, lentamente. Fácil falar.(E torcendo para não tropeçar e para aquele urso ser bonzinho). Algumas lojas de artigos turísticos vendem sininhos para espantar ursos. Dizem que se você andar na trilha tocando o sino, ele não se aproximam. Porém, este artifício atrai os predadores dos ursos que são os cougars e os coiotes que em bandos são muito perigosos também. É do caldeirão para o fogo. Vale lembrar que celulares e internet não funcionam em todo o trajeto da rodovia. A primeira parada foi em Atabaska Falls, a 30 km. Este percurso deve ser feito pela rodovia 93 A, que é uma via alternativa, é uma scenic road, como dizem. É uma estrada pequena, estreita e praticamente sem movimento de carros. Inicia em Jasper e vai até Atabasca Falls. A partir de Atabasca Falls, que vale um descanso vendo as cachoeiras, sobe-se a Beauty Creek. Um albergue (hostel) que fica a 84 km de Jasper. Esta segunda perna da jornada é mais dificil. Neste trecho tem-se que ir pela autoestrada, mas há muitas subidas. As subidas aqui são muito mais íngremes e longas que as que já conheci. Mesmo na Espanha, nas montanhas Cantábricas ou no Cebreiro, não há subidas assim. As dos Pirineus rivalizam em aclive, mas não em comprimento. Além disso, se você forçar as pedaladas, sobrevem dor de cabeça forte e náuseas, devido à altitude e ausência de oxigênio. Portanto, há que se ter paciência e ir subindo devagar, com várias paradas. Lembre-se que estará pedalando entre 2.500 e 3.000 m de altitude. Inúmeras vezes parei para ver se havia algo errado com a bici, porque as pedaladas não rendiam. Parecia que os freios estavam segurando ou que os rolamentos dos cubos estavam prendendo. Mas a bici estava perfeita, bem lubrificada, com boa rolagem, silenciosa e macia, com o câmbio e os freios precisos e bem ajustados, graças ao Veto, mecânico da Tribo do Djalma, aqui em Cuiabá. O problema era comigo mesmo, faltava perna e pulmão. Não estava habituado a subidas tão longas. Várias delas têm mais de 5 km. O albergue (hostel) de Beauty Creek custa 27 dólares canadenses. O gerente é um senhor safenado de sessenta e poucos anos, meio hippie, cabelos longos, tatuagens, de boa conversa, chamado Tom. Absolutamente relaxado em cuidar do albergue, que parece abandonado. Os banheiros são químicos, não há descarga e ficam invariavelmente longe dos quartos. Se precisar levantar-se à noite, é bom ter uma lanterna. Não há chuveiros, nem água encanada e nem eletricidade. A água utilizada é do rio e precisa ser fervida para beber ou fazer comida. Esses albergues têm cozinha, com fogão a gás e utensílios simples, mas sem água corrente. E você tem que lavar sua louça depois. Com água do rio (bem gelada). Eles fornecem colchões, lençóis e cobertores. Mas se você pretende tomar banho, leve sua toalha. Há toalhas próprias, bem absorventes e leves. Compram-se pela internet. O banho é no riacho e a água beira zero grau. Precisa coragem para entrar, mas depois não é tão ruim.
Há sempre uma fogueira para se ficar até a hora de dormir. O pessoal que se reúne nesses albergues são em geral estudantes viajando de maneira econômica. E há gente do mundo todo.










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