No dia seguinte, a pedalada foi até Mosquito Creek, com 64 km. A 10 km há uma cafeteria com sanduíches e bebidas quentes. Foi o pior dia da pedalada. Foram as subidas mais íngremes e longas que já vi. E havia sempre um vento contra, forte, segurando a bici, fazendo pedalar forte mesmo nas poucas retas. O vento gelado tornava cada respiração difícil e dolorosa, mesmo com o passa-montanha cobrindo o nariz. Os 64 km pareciam mais de 500. A chegada foi um alívio inesquecível. Nesta noite não fui para a fogueira. Dormi antes de escurecer (nas Rochosas nesta época, escurece às 22:00h). Foi também o dia mais frio da pedalada. Depois das 17h a temperatura em geral cai muito. Acordar e arrumar a bici pela manhã é sempre um exercício penoso. Pelo cansaço e pelo frio. O gerente do albergue de Mosquito Creek é o Alan, um sujeito magro, sorridente -sorriso de paisagem- daqueles que explicam tudo, nos seus mínimos detalhes, várias vezes, obsessivamente. Os banheiros eram bem longe, no final de uma trilha por detrás dos dormitórios. Nesta noite acordei para ir ao banheiro e lembrei-me que os latões de lixo ficavam próximo aos banheiros e os ursos têm atração especial por procurar restos de comida nos acampamentos. A cada passo, de madrugada, na trilha, parecia ver a sombra de um urso. Foi a esvaziada de bexiga mais rápida do hemisfério norte.
No quarto dia, de Mosquito Creek a Lake Louise, são 23 km. E aí recuperei minha abalada auto-estima. É uma trilha belíssima, com subidas e descidas normais. Chega-se em menos de 2h. Vale a pena ficar em Lake Louise. Há a tendência de encurtar a viagem um dia e ir até Banff, mais 60km. Perfeitamente viável. Mas ficar em Lake Louise é necessário. Precisa ver os lagos próximos, como o Lago Louise e Lago Moraine. Em Lake Louise o albergue é maior e tem água corrente, quente e chuveiro. Vá jantar no Out Post Pub. Fica dentro de um hotel, o The Post, logo na entrada da vila e vizinho ao albergue.
O quinto e último dia foi um presente dos deuses. Descansado pela pedalada curta do dia anterior, sem os ventos gelados e cortantes das montanhas próximas dos glaciares, com uma vista das mais bonitas, com pequenos lagos e riachos acompanhado a estrada o tempo todo, a pedalada de Lake Louise a Banff, 60km, é um descanso. Mas deve-se ir pela estrada alternativa, chamada Bow Valley road. O pouco movimento e a temperatura mais amena permite ver mais animais selvagens, como coiotes, alces e cabras montesas. Não vi nenhum urso. Não sei se felizmente ou infelizmente. Este tipo de viagem é ideal para bicis. Os canadenses respeitam a natureza e os ciclistas. Durante todo o trajeto, não houve um único carro que passasse próximo ou de maneira descuidada. A Via Rail, companhia de trem, cobra 20 dólares pelo transporte da bici, de Vancouver a Jasper, porém a trata muito bem. Quando recomendei cuidado especial, porque teria que pedalar já no dia seguinte à chegada colocaram a bici em uma caixa própria. Em Vancouver, no aeroporto, o cuidado com a bici é tranquilizador. E os ônibus da cidade (acredite) têm transportadores de bici. A cidade toda é bem servida de ciclovias, inclusive no centro. A não ser pelos banhos nos rios congelando e o medo dos ursos próximos aos banheiros à noite, a viagem é uma delícia. Segura e barata.
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